Av Paulista, 16h da tarde. Foi numa andança dessas que faço
quando volto pra São Paulo que encontrei, na multidão, olhos conhecidos.
Continuei andando até parar na sua frente, quando seus olhos afinaram ao
sorriso que você abriu. “Oi, Má, quanto tempo!” Quase não lembrava como minha
respiração era leve ao ouvir a sua voz. Quase não reconheci sua pinta do lado
esquerdo do rosto, já que agora você usa aquela barba rala que você odiava e eu
achava extremamente sexy. Sorri de volta, numa mistura de nostalgia, de
vergonha e de vontade de ficar ali, reconhecendo cada traço seu que eu senti
tanta falta nesses anos. A gente foi tomar um café no Center 3, onde passamos
tardes tomando coca cola de uniforme e mala nas costas. Muito tempo passou, eu não
tomo mais refrigerante e você só fica
acordado na base do café. O All Star azul marinho deu lugar aos sapatos sociais,
a camiseta do Red Hot às camisas de botão. Percebi que você sorriu quando
passamos pela escada onde demos nosso primeiro beijo. Eu estava tão nervosa,
meu Deus, você precisou segurar minha mão e dizer que tudo ia ficar bem. Sua
segurança sempre me fascinou e vejo que ela ainda está aí. Em momento algum
você desviou os olhos dos meus enquanto eu precisava encarar o desenho do
chantilly no café pra recuperar a sanidade de minutos em minutos. Vi o céu
escurecer do meu lado esquerdo enquanto o café virava chopp gelado. Acho que
ficamos ali mais do que deveríamos porque fomos parar no seu apartamento. Você
parece ter um emprego legal agora, mora num daqueles prédios pra baixo da
Brigadeiro. Sua mãe ainda insiste em mandar comida congelada e não existem
muitos vestígios de mulher na sua casa. Do lado da sua cabeceira um livro de
Machado que eu quase não percebi, mas foi o que eu te dei quando passou no
vestibular. Dentro dele ainda a minha dedicatória desejando vida em excesso, paz,
amor, dinheiro e um Adeus. O Adeus que eu não compreendo muito bem até hoje.
Simulei uma chamada e disse precisar ir embora. Aquele Adeus não podia ter
volta, não agora. Você me parou na porta e me encostou na parede. Sua mão
segurou a minha de novo e disse que tudo ficaria bem. Eu pedi pra soltar, desci
os oito andares de escada e saí na Av Paulista de volta pra casa da minha mãe
mentalizando que definitivamente não sei brincar de passado. As sensações ainda
são tão nítidas que pulam na minha cara se eu deixar. Você me adicionou no
facebook, pediu meu celular pra minha mãe. Jamais aceitei, jamais atendi. Você
é um passado bonito demais pra confundir no meu presente tão bagunçado. Você é
seguro demais pra misturar com a minha insegurança. Por isso eu peço pra não me procurar mais, não
me enfeitiça com esse perfume e não me tenta com esse sorriso de canto. Vai
embora e esquece o dia de hoje, esquece, esquece tudo. Mas antes, segura minha
mão e diz que vai ficar tudo bem de novo.
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