quinta-feira, 3 de julho de 2014

Eu nunca escrevi um texto sobre você



Eu nunca escrevi um texto sobre você. Não escrevi sobre a noite em que a gente se conheceu naquele pub alternativo da cidade e nem sobre o dia em que obriguei meu amigo a atravessar Bauru só para te encontrar em um outro bar qualquer. Não escrevi sobre o dia em que a gente passou naquela cachoeira e nem sobre as risadas perdidas que demos na estrada. Nunca escrevi sobre as noites de sono que perdemos estacionados na porta da sua casa conversando sobre qualquer coisa ou deixando os corpos falarem por si só. Nunca gastei sequer uma palavra para falar da nossa primeira vez, da nossa primeira viagem, do nosso primeiro Dia dos Namorados juntos, de todas as nossas inesquecíveis primeiras vezes. Nunca, nada.  E eu sempre escrevi sobre todos os que passaram, os que ficaram e depois foram, os que eu gostaria que tivessem ficado e aqueles que, hoje, dou graças a Deus que não permaneceram. Mas sobre você eu nunca consegui escrever. Meu coração nunca me permitiu juntar as frases numa declaração eterna e intensa de amor. Por quê? Porque todos os que se traduziram em palavras já não me pertencem mais. Quebraram, mudaram, redecoraram minha vida e minha mente com cacos e recordações. Tornaram-se lembranças, apenas. Boas ou ruins. Boas e ruins. E se foram. Foram para um lugar que eu não conheço e, sinceramente, não me interessa também. Sofri, chorei, gritei, mas deixei ir. E você? Ah, você não. Você tem ficado e eu quero mesmo que você fique. Que você me mude, me molde, me prenda, me solte, me ligue, me corte, me mate de amor. E esteja aqui agora, amanhã quando eu acordar, todos os dias no meu último suspiro consciente, sempre e para sempre.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Eu deixo você ir


 

Pode ir. Veste o casaco que você deixou atrás da porta do banheiro, calça os tênis sem cadarço que estão debaixo da cama e não esquece de deixar a chave da porta. Da minha porta. Deixa ela em cima da mesa, entre os vestígios do amor que fizemos noite passada. Foi amor, mas foi adeus.
Eu juro que eu tentei, em meio aos sussuros e suspiros, fazer você ficar. Eu diminui as expectativas e aumentei a paciência. Eu caminhei lado a lado e repousei minha mão nos seus cabelos enquanto a sua envolvia minha cintura. Você já tem alguns fios brancos, sabia? Eu guardei as notas do seu perfume enquanto respirava fundo no seu pescoço, tentando prender aquele cheiro comigo pro resto do dia ou da vida, você escolhe.
Eu te amei, sabia? Desse jeito precoce, como tudo o que eu faço, tudo o que eu sou. Eu quis descolar o meu coração remendado pra poder colar o seu. Eu quis entrelaçar meus dedos com os seus só pra ver se sentimentalmente a gente se encaixava tão bem quanto na cama. 
A abstinência já começou. Faz algumas semanas que já não enxergo seu formato no travesseiro e não encontro algum vestígio seu por aqui. Já mandei arrumar o estrado da cama que não aguentou o nosso fogo e a sua escova definitivamente já está em algum lixão da cidade. O seu nome no meu celular já não passa de um João ou Augusto qualquer. A verdade é que você já se foi e eu continuo adiando o ponto final, mesmo sabendo que estou escrevendo até meio apertadinho, pra ver se cabe mais história antes daquele toque brusco da caneta no fim da linha.
Então vai, já que você já foi. Mas não esquece de deixar, junto com a chave, todas as promessas de pra sempre e a minha foto 3x4 que está na sua carteira, que é pra você não lembrar de mim, não olhar pra mim, não falar de mim. Porque escrever sempre foi meu último passo e, depois dessa frase, finalmente chego no ponto final. 

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Sobre o que o passado faz com a gente


Essa é mais uma noite de quarta-feira. Abri minha Budweiser e aquele pacote de Torcida que estava jogado no fundo do armário há algumas semanas, só para me dar o direito de relaxar por alguns minutos e não pensar em nada. Acho que pedi demais a Deus porque jornalista que é escritora e vice-versa não pode - ou não consegue - se dar ao luxo de não pensar. Foi só o álcool começar a fazer efeito que um milhão de pensamentos começaram a passar pela minha mente um tanto perturbada. Sim, estou escrevendo esse texto já com os dedos meio amortecidos. Podem me julgar.
Fico meio em choque ao pensar em como o passado pode influenciar o nosso presente e, consequentemente, o nosso futuro. Li uma vez no Facebook uma psicóloga falando sobre um tal de um copo e resolvi seguir o lema para a minha vida. Segundo ela, um copo não é pesado, mas pode se tornar conforme o seguramos. Ele é muito leve se o erguermos por 10 segundos, mas pode ficar um pouco desconfortável se o fizermos por 1 hora. Segurando-o por um dia inteiro então, sentimos uma dor tão grande no braço que os 300 gramas que pesa parecem 300 quilos e, então, temos o braço amortecido pelo peso relativo daquele objeto. Ao fim da história, percebemos que o copo é como os nossos problemas. Por menor que eles sejam, é preciso largá-los para que eles não nos imobilizem e nos impeçam de seguir em frente.
O dia em que li esse texto foi esclarecedor. Logo eu que, na época, estava passando por muitos conflitos passado-presente-futuro. Vou ser sincera com vocês: sempre tive uma quedinha pelo passado, tipo amor de infância que não se troca e não se larga, sabe? Sempre gostei de uma nostalgia. E posso dizer que brincar de passado é meio perigoso porque é como uma corrente que te prende a coisas que nem existem mais. E, por não existirem, é difícil se libertar delas.
Não estou dizendo que devemos negar o que vivemos, com quem vivemos, como vivemos. O que aconteceu, aconteceu e, tendo feito bem ou mal, nos moldou para que nos tornássemos o que somos hoje. E acho até justo olharmos para trás, como as crianças que dão tchau para os carros na estrada, porém, é preciso termos a certeza de não trocarmos os pontos finais por vírgulas. Tudo o que aconteceu - nesse tempo verbal - deve ficar onde terminou.
Se eu parar para pensar, consigo enumerar diversos finais nos poucos vinte anos que existo. E, em cada um deles, querendo ou não, fui obrigada a dar enter, apertar o Caps Lock e começar um novo parágrafo. Talvez a vida seja assim mesmo, cheia de começos, meios e fins. Talvez os fins sejam necessários para os recomeços e esses, por sua vez, imprescindíveis para seguir em frente. Então que eu - que a gente -  saiba aceitar os fins, escrever os recomeços e viver a vida que nos é dada todos os dias. Que o presente não seja sombra de um passado distante e que o futuro se re-inicie a cada piscar de olhos.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Ao moço bonito da casa em frente


Oi bonito. Estava com saudades de te chamar assim. Faz tempo, né? Eu sei. Eu tenho lembrado muito de você ultimamente. Da sua calça de pijama e da cicatriz que você tem na barriga. Depois dos meses de choro seguidos pelos dias de raiva, veio a vontade de saber como você tá. Se você ainda perde a hora sem minhas ligações pra te acordar, se você ainda esquece de fechar a janela pra dormir. Odiava ter que levantar da cama quando começava a clarear o quarto pra fechá-la, sabia? Te procurar nas redes sociais já virou mania, necessidade de ainda fazer parte da sua vida mesmo sem você saber. Não pense que não sei que você passou no teste e conseguiu um estágio, nem que você andou de rolo com aquela menina da faculdade. Eu via os sinais sutis nas fotos que você curtia. Não pense que não vi você chorar aquele dia do outro lado da rua, sentado na calçada. Eu sei que você queria entrar. Na verdade, bonito - e meu coração sorri cada vez que eu te chamo assim-, jamais vou me esquecer do cigarro que você tenta mas não consegue largar. E das vezes que eu comprei um da mesma marca que o seu pra tentar te esquecer e me peguei tossindo segundos depois da primeira tragada. Você é igual a essa fumaça que não desce por nada na minha garganta. O que aconteceu com a gente? Achei que éramos pra sempre. Achei que, mais cedo ou mais tarde, a gente ainda ia se pegar, cada um em sua casa, olhando para o nada e dando risada do que a gente foi. Sentindo saudade. Mas não deu né? A nossa história é linda demais para a gente correr o risco de reviver e estragar tudo. Eu gosto de lembrar de você assim, com o sorriso de canto e a cabeça encostada na minha barriga. Gosto de te lembrar feliz. Então vai e não volta. Mas continua essa lembrança boa, essa saudade gostosa. Vai, que eu vou ficar aqui, assistindo você do outro lado da rua, fumando o seu cigarro e me intoxicando sempre de e com você. Vai e faz o favor de ser feliz, porque se você não for, bonito, eu juro que eu corro de volta pro seu abraço e faço de você o meu mundo de novo.


domingo, 1 de setembro de 2013

Uma carta ao passado


Havia muitas coisas que ela gostaria de ter te dito aquele dia. Havia um mundo inteiro que ela gostaria de ter explicado. Todas as razões e todos os caminhos errados que vocês tomaram e ela queria mesmo ter te contado. Ela precisava te dizer sobre todas as curvas que ela fez e todas as vezes que ela quis olhar para trás e não conseguiu. Ela tentou e você sabe. Até parece que você não lembra daquele sorriso de canto que ela dava só para você. Até parece que você não lembra daquela noite em que vocês fugiram de tudo e todos e sentaram na calçada do quarteirão ao lado. Só vocês dois e os segredos que vocês contaram um para o outro. Você falou do seu avô, ela contou sobre os problemas com o pai e sobre uma época bem sombria da vida dela. Aquela havia sido uma noite importante para ela, para vocês. Mas ela queria mesmo ter dito muito, ter dito tudo mas não conseguiu. Você lembra dos olhos dela? Do desespero que você enxergou neles aquele dia? Do quanto ela evitou olhar no fundo dos seus olhos e do tanto que a respiração dela pesava? Vocês se abraçaram e ela chegou a molhar sua camiseta de tanto chorar. Ela estava vestindo a sua blusa e eu sei que você lembra disso. Eu sei que você olhou bem e pensou que meu deus ela ainda é linda demais mesmo com esses olhos inchados e o coração apertado, meu deus, ela é. Ela achava que sabia o que era solidão até bater o portão na sua cara aquele dia. Ela pediu para você ficar, ela implorou com todas as forças que ela nem sabia que ainda tinha. Ela fechou os olhos e rezou forte pra não ser verdade, pra abrir os olhos e encontrar os seus do outro lado da cama em mais um domingo preguiçoso. Você não olhou para trás. Você não viu o mundo dela desmoronar junto com cada grito silencioso que ela soltou. Rapaz, você foi muito burro. Você foi porque aquela menina que você deixou para trás é o meu mundo agora. Eu luto todos os dias para apagar dela cada cicatriz que você deixou. Eu olho no fundo dos olhos dela e digo que eu não vou embora. Eu vou fazer por ela, rapaz, tudo o que você não fez. Eu vou ficar. E eu vou segurar a mão dela quando as coisas ficarem feias e vou fazer questão de sussurrar o quanto ela é linda e que eu a amo, porque eu amo. E ela vai ser feliz. Ela vai. Ela vai, rapaz, porque é o sorriso dela que abre o meu, é o toque dela que dá vida a um milhão de sensações que eu nem sabia que existiam. Ela é o meu mundo agora, rapaz. Então tira da sua cabeça que ela ainda pensa em você, que ela vive e morre por você. Você é um passado que eu tô fazendo questão de apagar da memória dela. É no meu abraço que ela adormece agora, sabia? É no meu colo que ela senta e é no meu pescoço que ela respira fundo. Você sabe do que eu tô falando, não é? Ah, rapaz, você foi burro e eu sou grato porque você foi embora e eu a encontrei. E hoje eu sou mais feliz porque ela finalmente disse que me ama. Ela me ama e você se foi. Acabou, rapaz, acabou.

terça-feira, 16 de julho de 2013

Numa tarde qualquer



Hoje você me pegou de surpresa. Quer dizer, não você, de fato, porque não sei por onde você anda, muito menos o que tem feito. Mas eu lembrei do seu abraço naquela tarde de um dia qualquer. Nós estávamos juntos há pouco mais de 4 meses, eu acho... Nós brigamos por alguma coisa boba que eu nem lembro exatamente o que era e eu levantei a hipótese de cada um ir para o seu canto, seguir a sua vida. Você disse não saber o que fazer e alguns minutos depois sumiu do chat da Facebook. Eu juro que achei que aquele seria o nosso fim. Mas 10 minutos depois você estava parado no portão da casa que eu chamava de minha. Você entrou, me abraçou forte e me deu um beijo que eu jamais vou esquecer. Naquele momento, mesmo que sem palavras - já que eu já sei que você não é bom com elas - você me pediu para ficar. E eu fiquei porque, nos seus braços e com todos os nossos erros, eu me sentia segura. E eu fiquei até você decidir ir embora. E você foi. Eu fiquei por mais um tempo e depois aceitei que era hora de caminhar também. Sumi com as nossas fotos, joguei fora o que sobrou de você por aqui e até comprei aquele sapato que você dizia que era horrível, só pra dizer pra mim mesma que agora não importava mais. E então eu fui, eu te deixei também. E tenho ido embora a cada dia mais. Nós já somos dois estranhos trilhando caminhos diferentes, em estradas que não se cruzam mais. E do que passou, ficou mais uma das cicatrizes que coleciono nisso que chamo de coração. E ele ainda bate e bate forte, mesmo machucado. É verdade que a nossa história chegou ao fim, mas há quem diga que para todo fim, há um recomeço.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Tanto e muito mais



Não sei escrever sobre você. Não sei escrever do que eu ainda não conheço muito bem e talvez também porque você me assusta. Não sei falar sobre amores verdadeiros, por mais que eu insista em escrever sobre eles. Não conheço, nunca vivi. Não sei decifrar esse seu olhar quando para o carro em frente de casa sempre que você insiste em me dar carona, mesmo sabendo que meu carro tá na garagem e o tanque tá cheio. Ainda não.

Ainda não. Isso me dá esperança. Porque a gente pode ser, sabe? A gente pode. A gente pode ser o que faltava um no outro, a gente pode ser o tampão desse vazio que insiste em deixar claro que existe. A gente pode ser a primeira mensagem do dia e a ligação de boa noite. E a gente já é, sabe? Mas a gente pode ser muito mais.

Você já é muito mais. Muito mais do que eu esperava em pouco menos de dois meses. Muito mais do que muita gente que ficou muito menos em tanto tempo. Muito mais do que o meu racional consegue entender.

E eu não quero entender. Coração é assim mesmo, a gente não explica e a gente não entende. Mas a gente se entende, e é isso que importa. E eu vou rir das suas loucuras e das coisas que você abre mão só para poder passar duas ou três horas comigo. Vou te chamar de imbecil quando na verdade meu rosto mal comporta o sorriso que eu tenho vontade de abrir.

Você me faz sorrir. E é isso que me importa agora porque fazia um tempo que ninguém me fazia rir mais do que chorar. Fazia tempo que ninguém se preocupava a ponto de querer saber se eu já cheguei, se eu já fui, onde eu estou. E eu estou aqui. O que são 340 quilômetros quando se tem tudo do outro lado da vida e no fim da estrada? O destino, que é você, faz a distância valer a pena. Faz a vida valer a pena. É por isso que eu digo sempre que eu vou, mas eu volto. Me espera!

sexta-feira, 24 de maio de 2013

O tempo passa e apaga... será?


Dizem que o tempo apaga. 

Mas quanto tempo leva para o tempo ser tempo e apagar o tempo que ficou? Dizem que o tempo cura, mas quanto tempo ele leva? E cura mesmo ou apenas faz esquecer algo que doeu? E cura  tudo ou cura só uma parte pra ter forças para seguir em frente? 

Acho que esse tal de tempo nunca foi muito com a minha cara. Os dias passam e as lembranças ficam. Só me resta esperar que, dessa vez, o tempo te leve com ele. Pra longe do aperto do coração, pra longe dos olhos, pra longe das mãos. 

O Adeus é o primeiro passo e já foi dado, mesmo com a voz fraca, mesmo com os olhos molhados, mesmo com a perna bamba. Um Adeus indesejado, mas necessário.

 O tal do tempo corrói a gente. Passa, dia após dia, para nos lembrar que é maior que tudo. Então vai tempo, cumpre o seu papel! Passa, derruba, bagunça, arruma, esconde, revela, mata e leva tudo com você.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

A tal da liberdade




Com certeza foram dias difíceis. Não tenho como negar que vivi um ano no êxtase do sentimento, que descobri muitas coisas boas, experiências novas e emoções que eu nem fazia ideia que pudessem existir. Mas, num belo dia, eu cansei de relutar e me acostumei com o pouco. Dizem mesmo que a capacidade do ser humano de se adaptar às coisas é impressionante. Inclusive às ruins. E eu me acostumei com migalhas. 

Há meses deixei que me diminuíssem, que me fizessem acreditar que o problema era eu. Mas não era. Não era porque eu fiz o possível - e até mais - para reverter uma situação que já não tinha volta. Lutei por um relacionamento que já estava fadado ao fracasso porque eu estava sozinha. 

Carreguei você e suas frustrações nas costas, enquanto colocava os meus medos no bolso. E aguentei firme até você perder a noção do respeito. Não estou dizendo que nunca errei, errei sim e feio. Mas eu nunca desisti de consertar os meus erros. 

Racionalmente, o nosso fim foi uma decisão necessária. Emocionalmente, sinto sua falta do momento em que escorrego da cama em meus joelhos ao momento em que o sono me vence. Lembro do seu cheiro e procuro o seu perfume em cada homem que passa ao meu lado. Anseio os seus passos no corredor quando ouço um carro estacionar na garagem. São as lembranças que eu criei de você, a imagem que eu fantasiei. Assumo que já não sei distinguir o que você realmente foi e a imagem que eu pintei em você, tão colorida.

Mas nem a Capitu aguenta me ver chorar mais. Não sei quantas vezes o pelo dela já se molhou e secou enquanto ela dormia perto do meu rosto. Eu tô frágil, mas eu sou forte. Ter a parte boa sem compromisso nenhum é fácil demais. Que sirva de aprendizado para os próximos.

Me recuso a dizer que fui idiota. Não fui. Eu fiz tudo o que o meu coração mandava, eu me esforcei e me empenhei por um compromisso que eu havia firmado, uma aliança que, pelo menos para mim, era mais que um metal segurando meu dedo. Fiz sozinha, mas fiz minha parte. 

Ouvi por aí que fui perfeita, mesmo não gostando dessa palavra. Ouvi que fui corpo, sim, mas fui alma. Não vou me deixar enganar e aceitar que eu fui o problema. Não fui. O que você quer agora é aproveitar suas oportunidades, sua vida, bebidas, mulheres e, só o que eu posso te dizer, é boa sorte, de coração. Boa sorte porque eu sei que essa vida é triste. Depois que o copo seca, não sobra nada.

As suas coisas estão ali naquela caixa. Sua sanduicheira, seu blazer e suas cuecas. Ah, não posso esquecer da aliança que você deixou aqui, talvez numa tentativa de me fazer esperar. Pode levar tudo, porque eu não quero estar presa a alguém que quer essa tal de liberdade, quando na verdade quem está preso à convenções e  orgulhos é você. 

Não quero desacreditar no amor. Já dizia o bom e velho Carpinejar, "liberdade na vida é ter um amor para se prender".



terça-feira, 20 de novembro de 2012

Demais pra falta que faz aqui



Av Paulista, 16h da tarde. Foi numa andança dessas que faço quando volto pra São Paulo que encontrei, na multidão, olhos conhecidos. Continuei andando até parar na sua frente, quando seus olhos afinaram ao sorriso que você abriu. “Oi, Má, quanto tempo!” Quase não lembrava como minha respiração era leve ao ouvir a sua voz. Quase não reconheci sua pinta do lado esquerdo do rosto, já que agora você usa aquela barba rala que você odiava e eu achava extremamente sexy. Sorri de volta, numa mistura de nostalgia, de vergonha e de vontade de ficar ali, reconhecendo cada traço seu que eu senti tanta falta nesses anos. A gente foi tomar um café no Center 3, onde passamos tardes tomando coca cola de uniforme e mala nas costas. Muito tempo passou, eu não tomo mais refrigerante e você  só fica acordado na base do café. O All Star azul marinho deu lugar aos sapatos sociais, a camiseta do Red Hot às camisas de botão. Percebi que você sorriu quando passamos pela escada onde demos nosso primeiro beijo. Eu estava tão nervosa, meu Deus, você precisou segurar minha mão e dizer que tudo ia ficar bem. Sua segurança sempre me fascinou e vejo que ela ainda está aí. Em momento algum você desviou os olhos dos meus enquanto eu precisava encarar o desenho do chantilly no café pra recuperar a sanidade de minutos em minutos. Vi o céu escurecer do meu lado esquerdo enquanto o café virava chopp gelado. Acho que ficamos ali mais do que deveríamos porque fomos parar no seu apartamento. Você parece ter um emprego legal agora, mora num daqueles prédios pra baixo da Brigadeiro. Sua mãe ainda insiste em mandar comida congelada e não existem muitos vestígios de mulher na sua casa. Do lado da sua cabeceira um livro de Machado que eu quase não percebi, mas foi o que eu te dei quando passou no vestibular. Dentro dele ainda a minha dedicatória desejando vida em excesso, paz, amor, dinheiro e um Adeus. O Adeus que eu não compreendo muito bem até hoje. Simulei uma chamada e disse precisar ir embora. Aquele Adeus não podia ter volta, não agora. Você me parou na porta e me encostou na parede. Sua mão segurou a minha de novo e disse que tudo ficaria bem. Eu pedi pra soltar, desci os oito andares de escada e saí na Av Paulista de volta pra casa da minha mãe mentalizando que definitivamente não sei brincar de passado. As sensações ainda são tão nítidas que pulam na minha cara se eu deixar. Você me adicionou no facebook, pediu meu celular pra minha mãe. Jamais aceitei, jamais atendi. Você é um passado bonito demais pra confundir no meu presente tão bagunçado. Você é seguro demais pra misturar com a minha insegurança.  Por isso eu peço pra não me procurar mais, não me enfeitiça com esse perfume e não me tenta com esse sorriso de canto. Vai embora e esquece o dia de hoje, esquece, esquece tudo. Mas antes, segura minha mão e diz que vai ficar tudo bem de novo.