quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Eu deixo você ir


 

Pode ir. Veste o casaco que você deixou atrás da porta do banheiro, calça os tênis sem cadarço que estão debaixo da cama e não esquece de deixar a chave da porta. Da minha porta. Deixa ela em cima da mesa, entre os vestígios do amor que fizemos noite passada. Foi amor, mas foi adeus.
Eu juro que eu tentei, em meio aos sussuros e suspiros, fazer você ficar. Eu diminui as expectativas e aumentei a paciência. Eu caminhei lado a lado e repousei minha mão nos seus cabelos enquanto a sua envolvia minha cintura. Você já tem alguns fios brancos, sabia? Eu guardei as notas do seu perfume enquanto respirava fundo no seu pescoço, tentando prender aquele cheiro comigo pro resto do dia ou da vida, você escolhe.
Eu te amei, sabia? Desse jeito precoce, como tudo o que eu faço, tudo o que eu sou. Eu quis descolar o meu coração remendado pra poder colar o seu. Eu quis entrelaçar meus dedos com os seus só pra ver se sentimentalmente a gente se encaixava tão bem quanto na cama. 
A abstinência já começou. Faz algumas semanas que já não enxergo seu formato no travesseiro e não encontro algum vestígio seu por aqui. Já mandei arrumar o estrado da cama que não aguentou o nosso fogo e a sua escova definitivamente já está em algum lixão da cidade. O seu nome no meu celular já não passa de um João ou Augusto qualquer. A verdade é que você já se foi e eu continuo adiando o ponto final, mesmo sabendo que estou escrevendo até meio apertadinho, pra ver se cabe mais história antes daquele toque brusco da caneta no fim da linha.
Então vai, já que você já foi. Mas não esquece de deixar, junto com a chave, todas as promessas de pra sempre e a minha foto 3x4 que está na sua carteira, que é pra você não lembrar de mim, não olhar pra mim, não falar de mim. Porque escrever sempre foi meu último passo e, depois dessa frase, finalmente chego no ponto final.