terça-feira, 26 de julho de 2011


Ei você aí que tá entrando na minha vida: não repara a bagunça! Não é que eu seja desorganizada assim, foram tempos difíceis. Não é que eu não goste do sol e mantenha as janelas fechadas, só preferi me esconder um pouco...chorar, arder. Não repara nesses Caio Fernando Abreu no chão não, pode empurrar e sentar onde quiser. Eu estou aqui varrendo a casa, mas acho que tenho tempo pra conversar, então fale. Você curte Adele? Se importa se eu deixar bem alto? Faz bem pro coração sabe? Não, pela primeira vez não estou falando de amor, estou falando da ausência dele. Ah, você sabe o que é isso, eu sei que sabe. Aposto que aí dentro está tão bagunçado quanto aqui. Previsível. Sabe o que é? Muitos ventos passaram por aqui ultimamente, derrubaram, quebraram, me jogaram no chão. Meses se passaram até eu conseguir abrir aquela janela ali e poder respirar. Aliás, você se importa em afastar a cortina? Tá ficando abafado aqui dentro. Obrigada. Não, ainda não passou, eu ainda sinto a brisa que sopra do leste. Mas é que eu aprendi que pra qualquer mudança, é necessário o primeiro passo. E eu to dando, tá vendo? Vamos, levante, me ajude a limpar isso aqui. Vou pendurar os quadros, arrumar as almofadas, empilhar os livros. Quem sabe no meio dessa zona eu encontre uma razão pra isso tudo. Se não achar, a gente inventa, a gente cria sonhos e corre atrás deles. A gente dá um jeito, a gente dá...

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Dois polos que me prendem...


Entrei no ônibus procurando meu lugar. Poltrona 19. Achei. Uma vez sentada, é hora de me preparar pras 5 horas que me esperavam na companhia da paisagem do meu lado direito. Sempre preferi sentar na janela, olhar a vista e não precisar conversar com quem sentasse do meu lado. Viagens, pra mim, sempre foram mais que percorrer vários quilômetros, mais que uma rotina que agora faz parte da minha vida. Viagens são viagens, e implicam no tanto de pensamentos que resolvem subir no ônibus comigo e tomar conta de mim durante todo o percurso. E dessa vez não foi diferente. Duas malas gigantes no bagageiro, notebook na bolsa, os fones no ouvido e um aperto no coração. Músicas com tantas histórias, frases com tanto sentido. Lembranças que eu carreguei comigo 6 meses atrás quando deixei minha cidade pra me aventurar a 350km de distância. Lembranças que agora martelam no meu coração pra voltar. Eu cheguei numa cidade nova, deixando toda a minha vida para trás. E construi outra, com todo o cuidado que devia. Deixar essa vida pra me lembrar que existiu outra antes dela nunca foi tão difícil. A noite começa a chegar, as árvores começam a ficar turvas na minha janela. Milhares de pessoas que me esperam, e esperam que eu diga que me arrependo, que quero voltar. Mas não. Eu construi uma vida onde o acaso me deu oportunidade. E aproveitei, e curti, e agora deixei. Opa, o céu já está negro, todo pintado de estrelas. Eu começo a ver pequenas luzes brilharem lá no fundo. É São Paulo, a cidade do caos. Vinte minutos me restam pra curtir a nostalgia que cerca viagens. Mas ta no fim. O ônibus está encostando. Eu vejo a placa "Barra Funda". Do lado dela o meu pai, com um sorriso no rosto, ansioso pela minha chegada. Hora de secar as lágrimas e aceitar que eu voltei. "Oi pai, que saudade! Enfim em casa."