Eu nunca escrevi um texto sobre você. Não escrevi sobre a noite em que a gente se conheceu naquele pub alternativo da cidade e nem sobre o dia em que obriguei meu amigo a atravessar Bauru só para te encontrar em um outro bar qualquer. Não escrevi sobre o dia em que a gente passou naquela cachoeira e nem sobre as risadas perdidas que demos na estrada. Nunca escrevi sobre as noites de sono que perdemos estacionados na porta da sua casa conversando sobre qualquer coisa ou deixando os corpos falarem por si só. Nunca gastei sequer uma palavra para falar da nossa primeira vez, da nossa primeira viagem, do nosso primeiro Dia dos Namorados juntos, de todas as nossas inesquecíveis primeiras vezes. Nunca, nada. E eu sempre escrevi sobre todos os que passaram, os que ficaram e depois foram, os que eu gostaria que tivessem ficado e aqueles que, hoje, dou graças a Deus que não permaneceram. Mas sobre você eu nunca consegui escrever. Meu coração nunca me permitiu juntar as frases numa declaração eterna e intensa de amor. Por quê? Porque todos os que se traduziram em palavras já não me pertencem mais. Quebraram, mudaram, redecoraram minha vida e minha mente com cacos e recordações. Tornaram-se lembranças, apenas. Boas ou ruins. Boas e ruins. E se foram. Foram para um lugar que eu não conheço e, sinceramente, não me interessa também. Sofri, chorei, gritei, mas deixei ir. E você? Ah, você não. Você tem ficado e eu quero mesmo que você fique. Que você me mude, me molde, me prenda, me solte, me ligue, me corte, me mate de amor. E esteja aqui agora, amanhã quando eu acordar, todos os dias no meu último suspiro consciente, sempre e para sempre.