segunda-feira, 3 de setembro de 2012

As paredes roxas...


Eu sei que eu disse que não ia voltar, mas juro que tudo o que eu queria agora era não ter saído do teu abraço naquela tarde quente que você me deixou aqui. Eu quis ficar e eu não olhei pra trás, eu não te vi chorar.
Eu sei que eu briguei tanto pra vir, não dei valor pra todas as noites que você não dormiu se perguntando o que aconteceria se eu não conseguisse. Eu também não dormia, e eu ouvia suas orações do outro lado da parede.
E eu sei que você também me ouvia chorar, sentia minha dor. E doía, viu? Doía precisar do mundo e só ter aquelas quatro paredes. E agora dói ter todo o mundo menos aquelas quatro paredes. Roxas né? Eu lembro delas... e do cheiro delas... do barulho delas.
Elas me sufocaram por muito tempo quando o sol detrás da janela era tudo o que eu podia ver. Mas a gente cresce e precisa tomar conta da gente. Da casa, da vida. Hoje tudo é tão diferente! O quarto roxo deu lugar às fotos na parede e os móveis brancos foram trocados pela cama de casal e o armário bagunçado. A bagunça que tá sempre na minha cabeça e eu jogo tudo lá dentro, onde só eu e ele podemos ver. E eu queria te falar disso também. Agora tem alguém que cuida de mim enquanto você tá longe. Eu sei que você não gosta da ideia e não concorda com as minhas escolhas, mas eu queria te dizer que é a primeira vez nos últimos anos que eu vejo um túnel. Isso, um túnel pra ter luz no fim porque antes nem isso eu via. Sim, ele me beija a testa mas ele também me faz mulher. A que eu sempre quis ser. O abraço dele ainda não é tão quente quanto o seu, mas me mantém viva. Viva, você ainda lembra como é se sentir assim? Viva? É por isso que dessa vez eu tô olhando pra trás e vendo essas lágrimas nos seus olhos. Mas viu, olha pra cima e vê que tem túnel e tem luz no fim dele. E pára, por favor, pára de chorar. Pára porque a minha felicidade depende da sua e tudo o que eu não queria era te decepcionar. Não chora mais... Por favor?